29 de novembro de 2008

Blumenau e a tragédia de 2008

Engraçado como que as pessoas ficam diferentes quando acontece esse tipo de coisa. Percebem que todo mundo é igual. Só por caminhar na rua, vê que os cidadãos já se olham entre si de uma forma diferente. De alguma forma, o acontecimento causou impacto na vida de todos. Ficamos sem água, luz, mercados, transporte, comunicação, remédios... Uma semana depois, ainda é difícil se concentrar no trabalho. Ainda só se fala nisso nas ruas. Todo mundo quer saber o que o outro perdeu e tem uma história para contar.

As pessoas estão solidárias. Às vezes, parece que sumiu um pouco as diferenças sociais. Ficamos mais iguais.

Eu também não sabia também que a TV é tão atrasada. Somente uma semana depois para começar aparecer as notícias na televisão. Só a TV local é claro, que noticiou e ajudou a defesa civil 24 hs por dia.

Sempre sabíamos que tínhamos uma cidade limpa e bonita, mas só agora demos conta do que isso significa. Não tem jeito, ver tudo destruído dá muita tristesa.
E como continuar morando nos morros? Antes, o único perigo eram as baixadas que davam enchente, agora também aprendemos que os morros podem desabar. Esqueça o que tu aprendeste na escola, morros fechados de mata atlãntica vieram abaixo! A mata não segura a terra quando cai toda essa água! Vem árvores, barro e rocha. Tudo abaixo!

Sendo voluntário na vila germânica, vi gente de tudo que é tipo. Gente que desperdiça água, outros querem tanto ajudar que acabam atrapalhando, há os que ajudam muito, há aqueles que se escondem pra não ajudar ( realmente não sei por quê vão lá) e há também aqueles oportunistas, mas isso é minoria. Ah, e como já é previsto, quando aparece uma câmera e um repórter, de repente todo mundo que estava cansado fica novinho em folha hehe.

Mulheres separam roupas e fazem kits de cesta básica enquanto homens carregam e descarregam caminhões. Todo mundo trabalhando igual loucos sem ganhar nada, para satisfazer as necessidades básicas dos desabrigados. Somado com as mega operações nos bairros, helicópteros no céu, imprensa, máquinas e exércitos na ruas, toque de recolher(pra evitar roubos). Me lembrou muito uma economia de guerra. Claro, tirando as armas.

Essa enchente foi diferente das outras. O pior não foi os alagamentos, e sim os deslizamentos de terra. Eu estava na pós graduação quando caiu a bomba d'água, foi muito rápido, em meia hora estava tudo alagado. A chuva destriu as pontes, estradas, escolas, gasodutos, estações de tratamento de água, pessoas perderam terrenos, independente de sua classe social. Desde a Rua Herman Rusher com suas casas voluptuosas, quanto outras tantas com suas construções simples. Não vou chutar números do prejuízo nem dizer a contagem atual de mortos, pois ainda não acabou. Mas para ter uma idéia, só uma empresa de cerâmica que está parada, deixa de faturar por dia 1 milhão e trezentos mil reais, pois não tem gás já que rompeu o gasoduto Brasil x Bolívia. O mesmo gasoduto que leva gás pro resto do sul.

E olha só, estou escrevendo isso uma semana depois, e ainda não parou de chover. Só resta rogarmos.
Mais uma vez nos pegamos pequenos e insignificantes mediante a fúria da natureza.



Fotos da tragédia

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